quinta-feira, 4 de junho de 2020



O amor para mim, é como um orgasmo que  vibra o meu corpo, mente e coração, me entorpecendo de alegrias, esperanças, planos, causando um chamamento para a minha vida, de maneira celebrativa. É comum quando estou amando, me perceber diferente, mais bonita, sorridente, sexy e irrestivelmente atraente. Gosto dessa auto-transformação em mim, não pelo que os outros dizem, mas pelo  que eu digo pra mim mesma. Apesar de acreditar que não busco  todas essas sensações no outro, reconheço que através do outro, eu atravesso de forma imersa em mim mesma, todos os meus campos sensoriais. Quando essa travessia é feita de forma saudável e amorosa, com a outra pessoa, sinto uma enorme energia avassalando meus sentidos através do encontro entre os nossos corpos, mentes e corações.
Acredito que é nesses encontros que formam-se os véus protectores dos nossos sentimentos numa relação à dois, tornando-a mais  duradoura e saudável.  Daí, ser comum as pessoas que se amam torcerem para que tudo dê certo, tentando perpetuar esses encontros que parecem mágicos, que tanto faz bem as suas existências. Que seja uma imaginação de contos de fadas romântica, mas quem nunca viveu , procurou ou quis um grande amor?
Há uma frase que diz assim: Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um.
A solidão é caracterizada por uma profunda sensação de vazio. Uma abordagem interessante é o perigo de a solidão levar ao egocentrismo. Quando as pessoas  vivem muito tempo sozinhas,  a pessoa fica tão focada em si que compromete sua capacidade de estabelecer contacto, principalmente numa relação à dois. E, mesmo que consiga interagir, ela sempre pensará mais em si própria do que nos outros, levando ao isolamento. A relação à dois, altera essa perspectiva de olhar o mundo, porque faz com que o outro entenda que para ver algumas coisas é preciso despregar os olhos de si mesmo. Acredito que ninguém em nossa vida, merece carregar em nossas costas, a responsabilidade de completar o que nos falta. Agente cresce através da gente mesmo, mas se tivermos em boas companhias, só mais rápido e mais rica a nossa aprendizagem.
No meu entendimento, o encontro entre as mentes, se dá através da facilidade e vontade de compartilhar o dia a dia com a outra pessoa, em seus anseios, alegrias, problemas, planos. Quando esse encontro torna-se forte, observa-se entre o casais um rompante de  cumplicidade  em suas tomadas de decisões, de maneira compartilhada, buscando o melhor para a relação e não somente o melhor para si. Isto significa dizer que as pessoas perdem a sua individualidade?...talvez, não seja por ai…diria que ao invés de manterem uma individualidade egóica, desenvolvem uma  individualidade transcendental, uma vez que o amor, é o único sentimento, capaz de modificar a maneira das pessoas verem o mundo, não somente a partir de si, mas a partir também do outro. Raul Seixas, num dos seus frequentes e valiosos momentos de reflexão, compôs uma letra de uma música que dizia assim: “Quando jurei meu amor, eu trai a mim mesmo”….Para mim, isso é quando a individualidade transcende o egóico.
No encontro entre as mentes, é comum o casal rezar o rosários de todas as suas alegrias e planos, desde aqueles que envolvem férias, investimentos, educação de filhos, trabalhos, casamento, etc, até o que vamos fazer numa sexta-feira de lua cheia. Muitas vezes após o encontro entre as  mentes, acontece o encontro entre os corações, principalmente quando alguns planos se concretizam, e merecem um beijo, uma taça de champagne e uma noite longa de amor.
O encontro entre os corações é mais silencioso…ele acontece através do olhar, de um gesto, de um toque….é o encontro onde se permite a abertura ou o aval para os demais encontros….geralmente, é nesse encontro que se desenvolve a compreensão, o carinho, o amor. É um encontro muito puro, embora muita gente não sabe apreciar este momento. Talvez, por isto, que algumas pessoas sempre vivem sozinhas, porque nesses encontros as pessoas necessitam de algo a mais que o olhar e o toque. Quando as pessoas se dispõem a ir a esse encontro, geralmente elas assumem um compromisso consigo própria de entrega e de intensa sinceridade. Dizer eu te amo, torna-se uma responsabilidade muito grande, nesse encontro. Porque mentiras e manipulações para conseguir o que se quer numa relação, não se chega a um encontro duradouro, nem muito menos a lugar nenhum. Não mentir é uma forma de respeitar o outro.
O encontro entre os corações, sela a cumplicidade e a lealdade entre o casal. É quando o casal percebe do quão importante torna-se a relação para o bem viver de ambos. E o zelo torna-se uma competência a ser desenvolvida e mantida em suas acções.
Na minha convencional cabeça, o encontro entre os corpos selam a entrega total da alma. No bailar dos corpos, sexo e amor se complementam, como numa selva de epilépticos, como diz Rita Lee.
O encontro entre os corpos também torna-se outra forma de linguagem para expressar os sentimentos e o andar da relação entre o casal. Deixar o parceiro à vontade, assim como ouvir os sentimentos do outro na cama, são as mentes e os corações juntos, também dialogando. Porque não existe separação, em nossa unidade existencial. A cama é o leito nupcial do casal. Não necessariamente na cama, é onde tudo acontece na busca do fortalecimento desses encontros já mencionados. Mas, a cama é um reduto de um casal que todos os dias dormem e acordam juntos.
Tem casais que se encontram somente para perguntarem sobre o dia do outro, durante o jantar. Em seguida, sentam-se em frente à TV, e posteriormente vão para a cama, sendo esta símbolo de descanso após um dia de trabalho. Não existe encontro de mentes, nem de corações, nem muito menos de corpos, numa relação assim.
Talvez, esse casal necessita mais de emoções, que propiciem desejos para instigar encontros entre eles. Pois sem isso, não há relação. Uma linda relação necessita de um café e de um amor quente, de preferência.