O amor para mim, é como um orgasmo que vibra o meu corpo, mente e coração, me entorpecendo de alegrias, esperanças, planos, causando um chamamento para a minha vida, de maneira celebrativa. É comum quando estou amando, me perceber diferente, mais bonita, sorridente, sexy e irrestivelmente atraente. Gosto dessa auto-transformação em mim, não pelo que os outros dizem, mas pelo que eu digo pra mim mesma. Apesar de acreditar que não busco todas essas sensações no outro, reconheço que através do outro, eu atravesso de forma imersa em mim mesma, todos os meus campos sensoriais. Quando essa travessia é feita de forma saudável e amorosa, com a outra pessoa, sinto uma enorme energia avassalando meus sentidos através do encontro entre os nossos corpos, mentes e corações.
Acredito que
é nesses encontros que formam-se os véus protectores dos nossos sentimentos
numa relação à dois, tornando-a mais duradoura e saudável. Daí,
ser comum as pessoas que se amam torcerem para que tudo dê certo, tentando
perpetuar esses encontros que parecem mágicos, que tanto faz bem as suas
existências. Que seja uma imaginação de contos de fadas romântica, mas quem
nunca viveu , procurou ou quis um grande amor?
Há uma frase
que diz assim: Enquanto não atravessarmos a dor de nossa própria solidão,
continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é
necessário ser um.
A solidão é
caracterizada por uma profunda sensação de vazio. Uma abordagem interessante é
o perigo de a solidão levar ao egocentrismo. Quando as pessoas vivem
muito tempo sozinhas, a pessoa fica tão focada em si que compromete
sua capacidade de estabelecer contacto, principalmente numa relação à dois. E,
mesmo que consiga interagir, ela sempre pensará mais em si própria do que nos
outros, levando ao isolamento. A relação à dois, altera essa perspectiva de
olhar o mundo, porque faz com que o outro entenda que para ver algumas coisas é
preciso despregar os olhos de si mesmo. Acredito que ninguém em nossa vida,
merece carregar em nossas costas, a responsabilidade de completar o que nos
falta. Agente cresce através da gente mesmo, mas se tivermos em boas
companhias, só mais rápido e mais rica a nossa aprendizagem.
No meu
entendimento, o encontro entre as mentes, se dá através da
facilidade e vontade de compartilhar o dia a dia com a outra pessoa, em seus
anseios, alegrias, problemas, planos. Quando esse encontro torna-se forte,
observa-se entre o casais um rompante de cumplicidade em
suas tomadas de decisões, de maneira compartilhada, buscando o melhor para a
relação e não somente o melhor para si. Isto significa dizer que as pessoas
perdem a sua individualidade?...talvez, não seja por ai…diria que ao invés de
manterem uma individualidade egóica, desenvolvem uma individualidade
transcendental, uma vez que o amor, é o único sentimento, capaz de modificar a
maneira das pessoas verem o mundo, não somente a partir de si, mas a
partir também do outro. Raul Seixas, num dos seus frequentes e valiosos
momentos de reflexão, compôs uma letra de uma música que dizia assim: “Quando
jurei meu amor, eu trai a mim mesmo”….Para mim, isso é quando a individualidade
transcende o egóico.
No encontro
entre as mentes, é comum o casal rezar o rosários de todas as suas alegrias e
planos, desde aqueles que envolvem férias, investimentos, educação de filhos,
trabalhos, casamento, etc, até o que vamos fazer numa sexta-feira de lua cheia.
Muitas vezes após o encontro entre as mentes, acontece o encontro
entre os corações, principalmente quando alguns planos se concretizam, e
merecem um beijo, uma taça de champagne e uma noite longa de amor.
O encontro
entre os corações é mais silencioso…ele acontece
através do olhar, de um gesto, de um toque….é o encontro onde se permite a
abertura ou o aval para os demais encontros….geralmente, é nesse encontro que
se desenvolve a compreensão, o carinho, o amor. É um encontro muito puro,
embora muita gente não sabe apreciar este momento. Talvez, por isto, que
algumas pessoas sempre vivem sozinhas, porque nesses encontros as pessoas
necessitam de algo a mais que o olhar e o toque. Quando as pessoas se dispõem a
ir a esse encontro, geralmente elas assumem um compromisso consigo própria de
entrega e de intensa sinceridade. Dizer eu te amo, torna-se uma
responsabilidade muito grande, nesse encontro. Porque mentiras e manipulações
para conseguir o que se quer numa relação, não se chega a um encontro
duradouro, nem muito menos a lugar nenhum. Não mentir é uma forma de respeitar
o outro.
O encontro
entre os corações, sela a cumplicidade e a lealdade entre o casal. É quando o
casal percebe do quão importante torna-se a relação para o bem viver de ambos.
E o zelo torna-se uma competência a ser desenvolvida e mantida em suas acções.
Na minha
convencional cabeça, o encontro entre os corpos selam a
entrega total da alma. No bailar dos corpos, sexo e amor se complementam, como
numa selva de epilépticos, como diz Rita Lee.
O encontro
entre os corpos também torna-se outra forma de linguagem para expressar os
sentimentos e o andar da relação entre o casal. Deixar o parceiro à vontade,
assim como ouvir os sentimentos do outro na cama, são as mentes e os corações
juntos, também dialogando. Porque não existe separação, em nossa unidade
existencial. A cama é o leito nupcial do casal. Não necessariamente na cama, é
onde tudo acontece na busca do fortalecimento desses encontros já mencionados.
Mas, a cama é um reduto de um casal que todos os dias dormem e acordam juntos.
Tem casais
que se encontram somente para perguntarem sobre o dia do outro, durante o
jantar. Em seguida, sentam-se em frente à TV, e posteriormente vão para a cama,
sendo esta símbolo de descanso após um dia de trabalho. Não existe encontro de
mentes, nem de corações, nem muito menos de corpos, numa relação assim.
Talvez, esse
casal necessita mais de emoções, que propiciem desejos para instigar encontros
entre eles. Pois sem isso, não há relação. Uma linda relação necessita de um
café e de um amor quente, de preferência.